DOCE LAR
- Ingrid Moraes
- 11 de jan. de 2017
- 1 min de leitura
Construí um castelo de espelhos para que eu me refletisse, mas esqueci que espelhos quebrados não tem conserto.
Então construí uma redoma de aço para que nada pudesse me quebrar, mas esqueci que a proteção é inimiga da liberdade.
Construí um abrigo em uma prisão de pelúcia, mas me acomodei e acordei desconfortavelmente isolada.
Resolvi construir uma casa de janelas, para que eu pudesse ver o mundo e nunca me sentir só, mas esqueci que ladrões são como o vento e roubaram tudo que restava.
O cansaço me tomou e morei no desamparo junto ao caco de espelho que guardei.
Ele refletia meus maiores medos então me encarei de novo.
Elevei minha coluna, ergui minha cabeça, concentrei meu pensamento, firmei meus passos.
Lembrei das minhas raízes e decidi morar em uma árvore.
Coloquei o meu espelho em um dos galhos, montei uma porta de aço e uma única janela com vista para o mar.
Juntei pedaços de pluma para acomodar meu sono.
Já não existia nada, apenas eu junto ao mar naquela árvore frente ao pôr-do-sol.
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