FAST-TEXT
- Ingrid Moraes
- 15 de mar. de 2017
- 1 min de leitura
A procura de tudo que é rápido, objetivo e prático.
Gelo descongelado e açúcar em gotas, senhor? Que tal a comida já mastigada?
O mundo gira rápido demais. Engolimos tudo rápido demais. E não há tempo nem para digerir.
Todos tem pressa, todos no mesmo passo. Como uma marcha para lugar nenhum.
Por isso escrevo, por isso me demoro nos significados, metáforas e entrelinhas.
Por isso vou a frente e volto, faço rodeios e explicações sem justificativa.
Meus textos são enviados sólidos e por vezes pesados, desconstruídos e incompletos.
Como peças soltas de lego, como uma carta picotada, como um enigma sem legenda.
Tive trabalho para escolher cada palavra e pesa-las em quilogramas.
Para medir minhas frases milimetricamente. E depois validar cada pontuação.
Só para ter certeza que você vai ler como se escrevesse junto e interpretasse de um jeito bem particular.
Mas, mesmo assim, ainda contei com a probabilidade de falhar.
Caso não entenda, leia novamente. Mas se entender, leia mais três vezes.
Use o tempo para mastigar, sentir cada palavra. A força de cada ponto final, a doçura de cada reticências.
Não quero leitores que apreciam frases soltas e textos prontos. Me recuso a leituras meia-boca, apenas com os olhos, sem mastigar.
Encontre uma poltrona confortável, vai ter pãozinho australiano de entrada e vai demorar. Aproveita.
Não trate o texto como obra pronta, comida triturada. Seja gourmet ou prato de quilo. Não sou FAST-TEXT.
O jantar vai demorar a ser produzido, servido, digerido.
Aceita uma xícara de café para esperar?
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