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O ÚLTIMO TEXTO

  • Foto do escritor: Ingrid Moraes
    Ingrid Moraes
  • 27 de abr. de 2017
  • 2 min de leitura

Você, assim como eu, deve se lembrar da sua primeira vez. Lembra-se como estava inteiro para vivê-la?

Me lembro da primeira vez que andei de avião, fui vestida como se estivesse indo a uma festa de gala no aeroporto, depois de dez vezes, eu já estava indo de pijama e óculos escuros. Lembro do primeiro beijo, a primeira vez que quebrei o braço, da primeira vez que fiquei de recuperação, a primeira vez que fui assaltada e várias primeiras vezes que fiz coisas marcantes.

Talvez saiba contar os detalhes da primeira vez que conheci alguém hoje importante na minha vida, descrever a roupa que estava usando e o que me chamou mais atenção naquele dia. Boa ou ruim. A primeira vez é definida, imutável, inédita e inflexível. Lembrança já formada, testemunhada, determinada e unicamente nomeada de primeira vez. Autenticada em cartório: PRIMEIRA VEZ, ponto.

Primeira vez causa taquicardia, medo, alegria, ansiedade, tensão. É como uma criança de vestido brilhante rodado que fica na memória brincando com todas as trigésimas crianças que não são tão memoráveis quanto.

Mas, eu sou apaixonada especialmente pela última vez. A criança que você nunca sabe quando vai chegar, a criança que muitos não gostam e que poucos a identificam. Pode ser a próxima, você não saberá. A última vez é indeterminada, inesperada. Pode ser, pode não ser.

Aquele abraço meio de lado, pode ter sido o último ou talvez essa seja a última vez que você enxerga o mundo com seus olhos, a última vez que consegue sentir suas pernas ou o seu "até já" pode ser na verdade um "adeus" mascarado pela rotina.

A última vez não liga se você tinha um trabalho para entregar segunda-feira, se estava com saudade da sua melhor amiga. A última vez não dá a mínima se você estava esperando encomenda ou se tinha planos de viajar. A última vez vai cortar seus sonhos para daqui dez anos ou pode mudar todos eles em um piscar. A última vez está pouco interessada em saber que você ia amanhã ou faria daqui a pouco, já não fará.

A última vez não tem intenção de te causar medo ou angustia, mas de ensinar que não importa como você gostaria que fosse, se não fizer ser, não será. Se deixar para amanhã, pode nem chegar.

A última vez pode ser a qualquer momento e ela não vai te perguntar se você estava preparado ou se estava com a cabeça em outro lugar. E às vezes a deixamos passar tão desapercebido que ao menos temos detalhes para contar.

Talvez a primeira seja a última, talvez a última seja a penúltima, você não pode determinar. Talvez ela tenha sido uma despedida bonita, talvez ela tenha sido uma vez como qualquer outra, mas não importa como você a nomeou ou a aproveitou, se a vida determinar como a última vez. E isso, meu caro, só depois de ser que você saberá.


 
 
 

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